CALDO COM GALINHA II
Continuamos com a
nossa canja, ou melhor com a nossa galinha, por enquanto.
Caldo com galinha, canja de galinha, Fim do Ano no Funchal,
dia 31 de Dezembro, Te Deum (1) na Sé ao
fim da tarde do último dia do Ano que parte.
Frente à Sé fica o Café Apolo. Quando saíamos da Sé e já alguém
da família tinha ficado no café a
garantir mesa para a família iniciar a
comemoração do Fim do Ano – uma canja de galinha servida em chávena.
Não sei o significado desse início de comemoração que se
repetia ano após ano. A galinha dessa altura, ao contrário do bacalhau, era uma
comida de certo modo nobre, quase reservada aos dias festivos e nem
era necessário relembrar a frase famosa dum nosso rei – nem sempre galinha, nem sempre rainha. Até porque rainha nem vê-la....
Minto.
Conhecia bem as rainhas “do baralho” e também havia uma importante personagem,
no Funchal de então, apelidada de Rainha que geria com sabedoria e bom proveito
um NEGÓCIO CONSIDERADO O MAIS ANTIGO DO MUNDO (ou a profissão
é que era
a mais antiga do mundo?) . O filho - o Príncipe, claro - ilustre Engenheiro, do
Técnico e tudo, frequentava a Faculdade em seu carro “de corridas”(2), quando todos nós, os outros
madeirenses, íamos para as aulas de “Eléctrico”
ou, então a pé. Bom negócio o da mamã...
Muito mudou desde esse tempo. O Te Deum repete-se, o
bacalhau ultrapassou a galinha e a canja passou a cerveja. Sinais dos tempos
porque a galinha passou a ser “fabricada” industrialmente e o bacalhau ainda não.
À frente explicarei como essa mudança modificou os nossos costumes.
Mas é
no plano da política e das opiniões que as coisas ainda mudam mais rapidamente.
Não vou falar na Irrevogabilidade
que Portas “explicou” (como se pudesse haver uma explicação) no Congresso do
seu Partido, onde também se deixaram cair as teses da Linha Vermelha dos Pensionistas, ou a do Aumento do Salário Mínimo . Essa
cambalhota não se deveu a qualquer
inspiração sobrenatural, ou mesmo racional (3), mas pelo AMOR À PÁTRIA, certamente... De repente, Ribeiro e Castro,
sublinhou que a crise (ou “birra”)
que o atual líder centrista provocou em julho do ano passado custou mais “800
milhões de euros de austeridade” . Isto é mais de 2 anos das receitas prováveis
com os cortes aos pensionistas e
reformados e aumentos da ADSE aos funcionários públicos e pensionistas.
Entretanto, já se ouvem as palavras de ordem – Ele Merece Belém!(4) ;Das Laranjeiras(5) para Belém!...Já
gritam os inflexíveis amigos que o
querem ver pela porta (não Portas) do fundo. Enquanto a razão da birra, a
Ministra das Finanças lá continua e Portas subiu a Vice . “O que tem de ser tem muita força”, não é?
Meti aqui o Portas e lembrei-me das célebres Primeiras Páginas do Independente e tudo isto vai
ligar, por mais estranho que pareça com a história da mudança da canja para
cerveja.
Explico. Não foi por falta de devoção, nem por maior
capacidade financeira que as comemorações pós Te Deum se fazem, desde há alguns
anos esta parte, num bar na zona do referido Café e da Sé. – O Encontro .Inicialmente propriedade de gente do Norte da Ilha,
foi juntando gente de S. Vicente e do Seixal e amigos dos amigos, até,
imagine-se mulheres de amigos, mesmo divorciadas e já vamos nos filhos dos
amigos, jornalistas, “fazedores de opinião”, presidente de Clube de 1ª Divisão
e até no passado recente, gente do Governo e do poder . Hoje só resta um
ex-secretário que a certa altura e para bem de todos, substituiu o leite pela
cerveja e saiu do Governo...
Relembro que o Leite de vaca era no passado, não
muito distante, bem para todas as maleitas do sistema digestivo. Hoje ,isso
também mudou e pelo exemplo que cito, a cerveja faz, nitidamente, menos mal que
o leite, ou até faz bem.
Nesse fim de tarde
cada um vai pagando um rodada do
precioso liquido que já não fabrico, até onde a razão e o corpo aguentam, no
meio de desejos de Bom Ano.
No final do consulado de Cavaco em S. Bento quando alguns
futuros “BPNistas” estavam então em nítida aceleração descendente, Portas
dirigia o Independente com uma 1ª
página semanal que geralmente deitava um Cavaquista abaixo. Cada tiro cada
melro...
Nesse ano, dia 31 de Dezembro apareceram nas
comemorações, vindos do Te Deum muitos “representantes do Povo na nossa
Assembleia Regional”, inclusive o seu Presidente (ainda o mesmo que manda arrastar
deputados pela porta fora) e não me coibi de lhe dizer que os meus votos para o ano que se iniciaria dentro de algumas
horas, era o de que não aparecer na 1ª página do Semanário de Portas. Quis ser
simpático...
E o meu desejo cumpriu-se...Maldito desejo!
E Cavaco Silva passará 10 anos na Presidência para regressar
à Travessa do Passolo, gozando, ou não, da simpatia dos moradores da Travessa e
do País.
Sobre o carinho que
lhe dedicavam os moradores da Travessa, retiro alguns excertos duma reportagem
de Paula Carvalho publicada no Público de 24 01.2011, - O Dia seguinte na Rua Do Presidente.
“Cavaco Silva ganhou
a admiração de um vizinho amante de pássaros, por não ter subscrito um abaixo assinado
para calar o seu melro”(...)
“O Presidente ganhou,
sobretudo a simpatia de Novo por não ter apoiado um abaixo assinado que
circulou pela Travessa do Possolo. Para explicar melhor, conta: “Gosto muito de
passarinhos e tinha um melro que cantava toda a noite. E aqueles vizinhos
telefonavam para mim a perguntar: ‘porque é que não põe o pássaro debaixo da
cama?’ E distribuíram um abaixo assinado na rua para expulsar o melro. Fiquei
chateado. Eu bem tapava a gaiola com um pano preto, mas ele toda a noite
cantava. Tive de o levar para a terra. Mas no prédio do senhor Aníbal ninguém
assinou...”, reparou Abílio Novo com agrado.”
E mais não digo!
(2) “Carro de corridas”, nome que a pequenada dava a qualquer desportivo
descapotável.
(3) “O que tem de ser tem muita força”,
ou como escreveu Henrique Monteiro no seu Blogue:
“Pronto! Perceberam? Pois eu percebi
muito bem! Portas quer, quase exige, que o nosso raciocínio dê o chamado
"salto de fé". Ou acreditamos que ele fez o melhor para nós, ou não
acreditamos. Como dizia Santo Inácio de Loyola (ou seria São Tomás de Aquino?
Este Portas baralha-me...) para quem acredita nele tudo está explicado; para
quem não acredita, não há mais explicações a dar.
Pois é. Dr. Portas. O problema é que 90
por cento ou mais não acreditam em si. Menos ainda no seu altruísmo e
responsabilidade. De modo que o que fica é isto: foi uma birra, que já nem o
próprio sabe explicar.”
(Henrique Monteiro)
Ler mais:
http://expresso.sapo.pt/chamem-me-o-que-quiserem=s25609#ixzz2qBBvn3TE
(4) Belém – Palácio, residência oficial do P.R. O residente actual deve
passar para a Travessa do Passolo, dentro de alguns meses..
(5) Lranjeiras – Palácio das Laranjeiras que Portas encontrou, após
longas noites a vaguear por Lisboa ,para aí estabelecer o Gabinete de Vice-Primeiro
Ministro. Consta que tem uma sala hexagonal (muito parecida com oval, mas com
bicos), onde implantou o seu gabinete.
“”.
NOTA
FINAL :
Junto aqui já uma interessante intervenção duma leitora, amiga e cunhada, sobre
a 1ª edição deste Blogue – “Canja de Galinha, fez lembrar a história da
celebre canja feita na vossa casa, com o galo de estimação do teu pai, com a
conivência da tua mãe.
A nossa mãe contava que foi roubado ( no galinheiro da tua
infância) pela tia Brites e o pai Sebastão, o dito galo para a canja que estava
deliciosae foi servida a um grande grupo de amigos na vossa casa.”
Sebastião seria
postumamente meu sogro e a Brites era sua irmã.
Bom tipo, o "Principe", de quem nunca soube o nome. Muitas boleias apanhei do Jardim da Estrela até ao Técnico… Boa gente, ele o irmão que já morreu e os filhos deste, três se me lembro, dos quais dois são meus amigos. E a cunhada, mãe dos tais sobrinhos, minha amiga desde sempre. Boa, muito boa gente!
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